Amar o perdido no passado negro
não me deixa escrever sobre o negro passado de mão em mão
que me forjou como brasileiro
só que não inteiro
pois que a palavra que não me falava do sentido e do passado
também não me permitia atualizar meu sobrenome
transformado em negro-cabinda negro-rebelde negro-fujão
e me inutilizava como homem negro
por não ter ficado qualquer resquício do vivido no porão
pois que o passado passado
ficou obscurecido sim
vivido sim
mas passado apagado que pago em mim
e sofro
por não tê-lo na memória.
In.cor.rentes é um livro que trata de tudo o que nos faz por dentro (“in”), de tudo o que os outros impõem sobre cada um de nós (“cor”), de tudo o que nos une ao mesmo tempo que separa (“correntes”) e de tudo o que quase nos toca, pois passa “rente”. O livro é social, mas não se esquece de que há que endurecer, mas sem perder a ternura. In.cor.rentes não fala de sujeitos sem cor que, por isso mesmo, quase sempre foram vistos como brancos e brancas. In.cor.rentes fala de pessoas que trazem na pele memórias das marcas de um tempo dolorido, por isso a morte ronda os versos e não deixa tempo para recreações exageradas.Com este livro, Valmir Luis Saldanha nos obriga a exugar as lágrimas com uma mão, enquanto com a outra pede que reescrevamos a história.