Valmir Luis Saldanha

Valmir Luis Saldanha é radicado em Itatinga-SP, professor efetivo de português e comunicação no IFSP, mestre e doutorando em Estudos Literários pela Unesp-Araraquara, e autor de materiais didáticos para diversas instituições de ensino. Participa ativamente do GEAL, Grupo de Pesquisa em Antropologia Literária, da UFPB, e do LLE, Grupo de Pesquisa Língua, Literatura e Educação, do IFSP. Com In.cor.rentes ele estreia oficialmente como poeta, após ter publicado para amigos o livreto Sala de (mal) estar em 2014.

MEMÓRIA 


Amar o perdido no passado negro

não me deixa escrever sobre o negro passado de mão em mão

que me forjou como brasileiro

só que não inteiro

pois que a palavra que não me falava do sentido e do passado

também não me permitia atualizar meu sobrenome

transformado em negro-cabinda negro-rebelde negro-fujão

e me inutilizava como homem negro

por não ter ficado qualquer resquício do vivido no porão

pois que o passado passado

ficou obscurecido sim

vivido sim

mas passado apagado que pago em mim

e sofro

por não tê-lo na memória.



DESPARECER DE SI


Antigamente eu achava que o sono sem sonhos era o mais próximo possível da morte

Não é

De uma noite sem sonhos passa-se a um dia comum

E é um breve suspiro que há entre se deitar e levantar


Já da ausência não se escapa

Ela é o prato na mesa diante da cadeira vazia

É o prato de onde todos se alimentam e no qual não conseguem colocar os restos

Um prato que nos alimenta ao contrário

O último sinal

(Ou o primeiro)

Da morte


Para alguns a morte é mera formalidade.




EPÍGRAFE


A tristeza é o que ocorre quando a saudade é na presença.