“Ecoou um canto forte na senzala
Ecoou um canto forte na senzala”
Mas lá fora existe a tal da bala
Que abate o meu povo
Se livramos das chibatas
Mas continuam cravando
Meu corpo negro de bala
Morro quando o sangue dos meus escorre,
ladeira, rua, quarto e cozinha.
Morreu mais uma menina que esperava outra menina
Cansada de ser a mais barata do mercado, tratada como só mais uma estatística e vista como vítima na mídia.
Vítima de bala destinada, não foi perdida se o alvo é sempre um corpo negro no final do beco
Nem terminamos de gritar presente pro último inocente e já tem outro deitado chão.
Coração em pedaços, meu corpo sente o cansaço de quem come o pão amassado todos os dias.
O diabo fardado me espia
Na tentativa de calar minha voz
Matando mais um cria.
Se o choro da mãe não te comove, você morreu por dentro antes do motolov
Não me mate, pois já tô morta
Feito fênix, mas no pique águia
Sempre alerta
Ouvindo o riso da pequena Agatha
Nas asas de Marielle
Do grito de João
Vivendo na fé
Do axé.
Se livramos das chibatas
E vamos continuar lutando para se livrar das balas.