No espelho d’água
O reflexo da negrura
Da pele reluzente
Contrasta com o branco das nuvens
De um céu
Que não foi criado
Nem por Deus
Nem pelo Diabo
Pois a criatura ali
Diante de si no espelho
Vinda do barro
Moldada pelas mãos de Nanã
Existe e resiste
Ancorada pelo sangue
De seus avós
Derramados das veias abertas
Em uma outra época
Consagrando o agora
E o que há de vir
No espelho d’água
A lágrima que brota
Escorre no peito arfado
Desejando vida
Ansiando morte
Retalhando o rosto que se mira
E se desfaz no trepidar
Do espelho d’água
Nada é constante
Tampouco infinito
E de certo somente o refúgio
Na esperança
Dos ecos da liberdade