Mônica Viollet
Mulher
1
o pai machista demais
não a ensinou a ser gente
pensou que não era
cresceu feito um bichinho
feio
assustado
2
a mãe machista demais
não a ensinou a se amar
pensou que o amor
só vinha de fora
cresceu feito uma bonequinha
vazia
sem valor
3
o marido machista demais
não a tratou feito gente
nem deu amor
pensou ser propriedade dele
cachorro que não obedece
apanha do dono
4
sem saber bem
como existir no mundo
parou de chorar
descobriu que não era
nem bicho
nem boneca
nem coisa
e se amou.
À semelhança de Deus
o homem é o cabeça do lar
feito à imagem e semelhança de Deus
a mulher era apenas uma companhia
criada para ele
de sua costela
nasceu eva
eva boba
eva burra
acreditou na cobra
trouxe o pecado
para o mundo
sem ser imagem
e semelhança de Deus
porque Deus não é mulher
eva recebeu o castigo de sofrer
a dor do parto
e todas as outras dores do mundo
a terra é mãe
semelhante à mulher
mas não há Deusa
a mãe cria sozinha
seus filhos
e seu amor é o maior
que existe
mas não há Deusa
mãe não abandona
mãe afaga
mãe protege
mas não há Deusa
porque Deus é pai,
não é padrasto
qual a diferença?
e todos os dias
milhares de evas
marias
malês e carolinas
morrem vítimas
sem o direito à proteção
de uma divindade
que as represente.
Mônica Viollet é escritora, poeta, professora, revisora textual e mãe da Morghanah e da Alice. Natural e residente do Rio de Janeiro, é escorpiana raiz, adora ler e não dispensa um bom café. Formada em Letras | Português - Literaturas pela UERJ e pós-graduanda em língua portuguesa pelo Liceu literário Português, leciona Redação no pré-vestibular social QI e é voz do coletivo de poesia “Ecos poéticos”. Adora escrever poesias, contos e crônicas e vê a escrita como uma necessidade básica em sua vida.