Shara Lopes

Choro (NOME-VERBO)

Ontem, ou na vida adulta (já não recordo mais),
ouvia sempre do ritmo musical choro,
chorinho.

Numa defesa de tese linguística,
vendo a doutora chorar a morte de sua cunhada,
outra vez ouvi o signo passear pelo ar.
Cunhada não é irmã:
é cunhada, é história e vida
e agora, morte.

Antes, eu sentia um pesar não meu,
mas tão pesado
que pesava em meus olhos
como ontem nos olhos da doutora.

O lamento silencioso
carregou a atmosfera,
parecendo seis milhões de canetas machadianas românticas em funcionamento simultâneo.
O choro em forma de ironia ou de batidas já não importa muito...
O céu pesado que se rasgou sobre a cruz rasga-se continuamente.
E o tempo, que não se conta, não perdoa nenhuma dívida ou pesar,
nenhum sólido ou líquido: nos cobra a todas!

Hoje, que pode ser amanhã,
secou por inteiro minha garganta,
ao soluçar abestalhado com a doutora chorosa dilacerada e coroada.

BREVE ENTREVISTA COM A AUTORA