Debaixo da ponte
Esconde o rosto
Distante do pai
Distante da mãe
Distante do pastor
A ovelha desgarrada
E des-viada.
Não há albergue que
Acolha e aceite
Respeite e recolha
Do abandono e da dor
Da violência nas ruas
A ovelha desfigurada
E trans-viada.
Não há amor na cidade
Que dorme silente
Enquanto bale
E não há defesa
Ampla ou restrita para
A ovelha tosquiada
E extra-viada.
Há doze anos
Eu me derramaria
Em lágrimas ofendidas
Há nove
Eu me debulharia
Em textos de autocomiseração
Há seis
Eu me atravessaria
Pela vergonhas de ser
Há três
Eu me culparia
Por ter silenciado
Hoje
Eu te ouvi
E concordei que sou viado
Mas jamais
Deixei
De tremer de medo
Uma ameaça
Afinal
Será sempre uma ameaça.