O sangue que de nossas mãos escorre
É o mesmo de ontem e de séculos
É o mesmo de cada genocídio indígena
É o mesmo de uma menina Yanomami
Estuprada e morta por garimpeiros
É o mesmo que envenena tantos rios
Com a lama almadiçoada pelo mercúrio
É o mesmo de cada floresta devastada
De toda aldeia destruída, da ascentralidade
Deixada ferida para sangrar até o fim
O sangue que de nossas mãos escorre
Tem a rubra cor do nome desta terra
Que numa mesma única lágrima chora
A esperança que ainda sobrevive
Na pele pintada de urucum
*
Desde criança ouço os chamados
Das árvores e dos pássaros
Das rochas e dos ventos
Das águas e do fogo
Da lua e das estrelas
Chamando-me sussurrantes
Pelo meu nome, e após
Voar perdido na escuridão
Dentro da noite aprendi
A ter olhos ao escutar
No ritual deste ato de escrever
Ao ouvir o bater do coração
Usando palavras como ervas
Transcendo-me em poesia
E com sua força ancestral
Encontro meus totens e guias
Fazendo de cada poema
Um cristal e pedra de poder
Transmitindo a energia sagrada
E curando-me na cura de quem lê