Os anúncios de imóveis
nos garantem que a felicidade é de concreto.
Pesa trezentos metros de luxuoso gris.
Tudo tão alinhado no alto dos edifícios
que todos parecem repousar à direita de deus
pai todo poderoso.
As pequenas criaturas embaixo sonham
suas caixas de madeira, suas carteiras de trabalho,
o troco para o pão.
Mas os anúncios acreditam que a felicidade
é uma janela aberta na altura dos pássaros.
Esse engano nunca me pareceu tão caro.
É por isso que carrego por dentro uma pátria que me basta;
descanso meus olhos na dureza das vigas;
abraço o chão e sua poeira, pois é nele que reside o assombro.
Nascemos e morremos nus, sem vestes de ferro.
Nos altos edifícios as felicidades sempre envasadas no âmbar:
pequenas doses, grandes submundos.
Fios, pássaros, postes, árvores:
a cidade real dorme e cresce naquilo que afunda.
Lá no alto, tão perto do céu,
os felizes observam tudo
em gaiolas de LED e mudez.