Duas dezenas de sacos pretos na rua,
Meio fio de sangue,
Valeta de lágrimas.
O Sérgio Vaz contou que mataram o menino da rua de baixo,
De novo
De novo
De novo,
E de novo.
Matam ele todo dia,
18 tiros
Sempre que tenta levantar,
Olhos, guarda-chuvas, furadeiras,
a hora errada, o enquadre.
A mão invisível do mercado,
E sua promoção de carne:
O camburão sempre foi uma câmara de gás.
*
O deserto avança a passos largos,
e se parece com você.
Os grãos de vento, os ventos de areia,
a boiada passa, morde e pisa,
e tem ares de você,
não dissimula!
O chão parece com você,
todo plano e meio morto,
olhos de mercúrio e fogo.
O capuz branco combina com você,
a santa inquisição,
os gases,
as câmaras
os gases
em drones.
Os robôs tem trejeitos de você,
a bala, a cor, a palavra, a farda.
Tudo termina como num episódio de Scooby Doo,
com a gente com um disfarce na mão, depois de resolvido o mistério:
no fim era você.