Ao voltar ao lugar onde nunca estive
Quis corrigir o poema que nunca foi escrito
Mas a vontade não teve força para escapar
As paredes copiadas das que nunca se tinham erguido
Impotente na minha visita
Inspirei fundo a história em meu redor
E expirei poeiras diferentes.
As que nunca conheceram
Uma repetida dor deste meu novo ardor
Tentei defender um ataque que nunca se mexeu
Mas essa defesa não sabia como se proteger
Acho que foi aí que caí o que nunca subira
E vomitei a desigualdade que faltava ainda comer
Quis devolver o que nunca me deram antes
E repeti o que devia ter sido dito há muito tempo
Chorei a alegria que não conheceu sorrisos
Recordando as memórias carentes de nascimento
Continuo a ver tons de preto
Nos demais ouros descobertos nesta viagem
O conhecimento numa outra versão
As tintas extintas das indígenas tatuagens
Uns acharam-se mais que outros
E hoje não vejo qualquer diferença
A cultura afogada nas margens da história
Afinal vem de águas poluídas desde a nascença
*
Faz parte de mim, do meu eu poético
Como se de um membro se tratasse
Viver o passado, rever a construção das rugas
Seja as do meu coração seja as da minha face
Faço dos bons momentos meus
Os heróis das histórias para recordar
Dos maus, escrevo poemas que rimam
Entre os verbos desistir e superar
Mas quando divago no tempo
Sabendo que este sempre me leva a algum lado
Volto às coisas que já esqueci
E recanto com saudade um novo fado
Pergunto-me então, entre memórias e desmemórias
Se me lembro dos momentos para os quais vivi
Ou se o cérebro funciona ao contrário
E se vivo para os momentos que já esqueci
O desejo da repetição vem da lembrança
De como me senti em determinado momento?
Ou será este desejo uma esperança
De (re)conhecer a novidade de um sentimento?
De todas as vezes em que suspirei
No verão, os doces da minha mãe do natal,
Quanto daquele sabor cremoso lembrado
Era somente imaginação sem açúcar nem sal?
De todas as vezes em que visionei
O triunfo do topo da cordilheira,
Quanto desse ventorioso realmente só me sopra
Quando voltar aos penhascos uma vez primeira?
De todas as vezes em que sonhei com ela,
Com os seus beijos, abraços, calor,
Quantos destes viajaram o passado perdidos
Procurando achar o seu esquecido amor?
Como explico o esquecimento de um poema
Que mudou completamente a minha vida?
Um certo mergulho no mar em dia perfeito,
Um reencontro de amigos de esperança perdida?
Como seria se a minha memória fosse infalível
E tivesse a capacidade total de reviver?
Qual a motivação de levantar num novo igual dia?
Não... Para (re)viver eu preciso de esquecer