O meu corpo, o teu corpo,
o nosso corpo. O que é o corpo?
Pensar o ser, o eu, é pensar também o corpo.
As relações não se dão sem o corpo.
A sociedade não existe sem o corpo.
O pensamento não surge sem o corpo.
O acontecer, o viver, o sobreviver.
É com o corpo.
O corpo é firme, tá na terra.
O corpo é avoado, leve, flutua, tá no céu.
É assoprado.
Vai pra longe.
Vem pra perto.
Consome e é consumido.
Produz e é produzido.
Destrói e é destruído.
Expressa alegria e dor.
Amor e ódio.
Esperança e descrença.
O corpo chora e faz chorar.
O corpo magoa e é magoado.
O corpo me toca, me dá afeto,
corpo é material e imaterial.
Corpo é coisa e coisa é corpo.
Corpo é objeto.
Corpo é abjeto.
Corpo vê, olha, enxerga.
Corpo assiste e é assistido.
Corpo é atração, espetáculo, cena.
Corpo é cinema, música, fotografia.
Somos com o corpo.
Performatizamos com o corpo,
usamos roupas, adereços, enfeites para cobrir o corpo,
nos despimos de tudo para mostrar o corpo.
Mas que corpo?
O corpo é o que é.
É um corpo.
Sinto orgulho.
Quero mostra-lo.
O corpo é biológico.
Porém a anatomia não é o destino!
Corpo é cultural, é social, é político.
Tem corpo visível e tem corpo invisível.
Tem corpo bonito e corpo feio.
Tem corpo perfeito e imperfeito.
Tem corpo.
O meu corpo, o teu corpo, o nosso corpo.
Tem corpo de mulher e de homem.
Tem corpo de pessoa.
Existe corpo frio, quente, pálido.
Existe corpo preto, branco, de diversas cores.
Existe corpo cis e trans.
Existe corpo.
O corpo existe?
O meu corpo, o teu corpo, o nosso corpo.
É corpo.
O que é o corpo?
Me vejam: disse o corpo.