Hoje não tem poema, nem dilema,
A tinta falha, o sangue escorre,
A página espia, plena nostalgia,
Fechado para prosa e poesia,
A arma não cabe nas rimas.
Hoje o poema está com fome
De versos, de vida, do homem,
Sem pauta vagueia distraído,
Marca passo das trincheiras,
Sem espaço em linhas vazias.
Hoje o poema está parado, calado,
Forma nua na esquina do pecado.
Não há cura nem cenário,
É panfletário sem assinatura,
Abismo gratuito sem rasura.
Hoje o poema está vago, não eleito,
No meio do caminho, sem sujeito.
A palavra não soa, a vida está à toa,
Perdida em entrelinhas da memória,
De uma história em que não se apaga.