Minha terra tem saúvas
que os males do Brasil são.
Nosso céu anda encoberto
dada tanta poluição,
queimadas e devastação
nossas flores já murcharam
foi o amor que desertou.
Em cismar, sozinho, à noite,
que prazer encontro eu cá?
Quem me dera eu ter asas
e voar feito sabiá.
Não permita Deus que eu morra
de desgosto ou indignação.
Ao ver o Estado brasileiro
tão distante da nação.
As lágrimas escorrem pelo seu rosto e caem na terra seca.
Como quem teme pelo futuro, segura forte na mão de sua filha
que com o olhar entristecido
não acredita na paisagem desoladora à sua frente.
O que terá acontecido com os animais que perambulavam no seu entorno?
A diversidade trocada por um rastro vermelho acinzentado
de destruição e morte, seguido talvez por uma monocultura
que beneficiará à poucos. E a boiada passará.
Por quê? Silêncio.
O único barulho é o do estalar do tronco da árvore ainda em brasas.
Para muitos apenas um pé de pau queimando.
Reservas indígenas agredidas, violentadas.
Longe dali corações desumanizados
e bocas que cospem palavras acovardadas,
colocam a culpa em quem cuida e ama as florestas
e fragilizam às Instituições responsáveis pela demarcação e proteção.
Entre a ganância e a ignorância de uma gente
que nunca entendeu ser parte da natureza
carregam o ódio da destruição e permitem ou aceitam
os ataques com suas ações ou omissões.
Esquecem-se que antes que a Casa Mãe sucumba,
sucumbimos todos nós.
E a cabocla que segura na mão de sua filha e chora por ela,
por sua filha e pelos nossos filhos e nossas filhas.
O cavalo branco corre
Por colinas verdes,
Um longo caminho percorre
Feliz e contente:
“Isto aqui é o mundo”,
Pensa em sua ingenuidade.
“Só mato, flor e céu azul,
Pasto infinito cheio de bondade!”
Corre tão longe, porém,
Que o pasto acaba,
E à sua frente, mais além,
O verde ao cinza desaba.
Toda planta desmatada,
Todo rio secado,
A terra à exaustão escavada
E cheia de lixo.
A paisagem cinza
Logo acinzenta seu pelo
E também seus pensamentos:
“Se este é o mundo, não quero mais vê-lo”.
Mas ao correr para trás
Não vê mais pasto:
Aquele cinza voraz
Foi mais rápido e nefasto
Árvores virando papel
Retrato fiel do nosso caos
Porque o valor ordinário
Do oxigênio
Está no bolso
- isento de imposto -
do empresário
hoje vi um pássaro:
Passeando nas pedras
batendo nas pedras no passeio
Por quê?
Pode ser que seus pensamentos de pássaro
tenham capturado a presa minhoca debaixo da própria calçada
ou pode ser porém que estivesse pura a sua preocupação
Angustiado com a semente plantada debaixo das pedras
sem espaço de ser
ou talvez seja dele o pensamento que voou até os campos verdes plantados em memória
E despedaçou contra a parede invisível, tipo vidro:
Cansado
Saudoso
Adiado
E
Hoje vi um pássaro
Passeando nas pedras
batendo nas pedras do passeio
Por quê?
Pode ser que seus pensamentos de pássaro
tenham capturado a presa minhoca debaixo da própria calçada
ou pode ser porém que estivesse pura a sua preocupação
Angustiado com a semente plantada debaixo das pedras
sem espaço de ser
ou talvez seja dele o pensamento que voou até os campos verdes plantados na memória
E despedaçou contra a parede invisível, tipo vidro:
Cansado
Saudoso
Adiado
E talvez por isso o pássaro se foi contra a pedra se foi contra se foi contra se foi contra se foi se e
Hoje vi um pássaro e
Hoje
No início era AR
no horizonte SOL
livre-voar vida-germinar
Socozinhos
Garças
Tuiuiús
Carcarás
Era VIDA de pescar
nos corixos inundados
passarinhar filhote-alimentar
Mas dum lampejo labaredas
do vento cinzas
do crepitar da mata palha
da vida lamentos
MORTE
Asas chamuscadas
a agonizar
revoada incerta preso-voar
Tudo era FOGO
Nada era AR
montanha pré-histórica
rochas góticas pontiagudas
o sagrado não precisa de templo
puro gênese
cada cor uma marca do tempo
a dança das mudanças climáticas
quanto maior a concentração de carbono
menor diversidade de vida
assim se fez no princípio
assim tende o nosso retorno, trilobita
em camadas densas refletidas por minerais
no meio de lixo, nossa carcaça sedimentada em camadas
por compressão e pressão de nossa essência
águas verdes cristalinas
refletem nossa sombra translúcida
entre rochas testemunhas
não escapamos de nossas ações
de passagem, chegamos
pós galácticos buscando poesia
A gente recicla, reutiliza e reduz,
Mas o agronegócio consome mais da metade da água potável disponível.
A gente reutiliza, reduz e recicla,
Mas o agronegócio invade as terras e aldeias indígenas.
A gente reduz, recicla e reutiliza,
Mas o agronegócio destrói as matas e florestas, com a permissão do governo.
O agronegócio sustenta a vida dos brasileiros (é o que diz na tevê),
Acabando com tudo que vê pela frente, sem medir consequências,
Enquanto quem, realmente, luta para salvar o mundo,
É silenciosamente silenciado.
(Isso, ninguém vê).
Aí, a gente recicla, reutiliza e reduz,
E até se reeduca,
Para tentar diminuir os estragos.
E, no fim das contas,
Não adianta absolutamente nada.