Ian Anderson Gomes Dias

O caso da fila

Mãe, tenho fome.
Eu sei minha filha, continue na fila.
Mãe, que fila é essa? Onde ela leva?
Ela leva à comida, minha filha.
Mas porque há tanta gente na nossa frente?
Todo mundo tem de comer, minha filha.
Mas que cheiro é esse? Tudo aqui fede como aquela vez no lixão.
É o cheiro do caminhão que passou.
E o que havia no caminhão?
Comida, minha filha.
E é essa comida que vamos comer, mãe?
Se tivermos sorte.
Quem nos dá essa comida é maldoso de nos fazer esperar no sol.
Ninguém nos dá nada, minha filha.
Como assim, mãe?
Nós queremos comer e por isso temos de pagar.
Mãe, que é aquele negócio branco?
Qual, minha filha?
Aquele que o homem leva abraçado e não deixa ninguém ver, feito um tesouro.
Aquilo é osso, minha filha.
Mas porque ele quer um osso, mãe?
Para comer.
Mas osso é duro, mãe. Não dá para comer.
Dá. Tem de dar.
E todos aqui vem pegar osso também?
Todos vem, nem todos vão.
Que quer dizer, mãe?
Cala-te que já chega nossa vez e não deves incomodar o moço que vende o osso.