Pedro Luis

Fome

Eu como carne
Eu como carne de gente
Não quero osso
Eu quero músculo, alma, coração
E o pescoço
Que na garganta dá um nó
Eu como a carne
Moo o ser, deixando o pó
Pobre ser, morto de fome
Eu como carne
Onde não tem comida
Eu como a vida
Destruo a vontade
As qualidades do ser
Eu posso ser a verdade
Que esconde-se no tiro
Eu posso ser a coragem
De quem grita meu nome
De quem insiste em me mostrar
Para políticos que somem
Fingindo me combater
Lutando para me perpetuar
Na carne de quem já me tem
De quem já roubei a carne
Deixando o pó, só e o osso
De quem já joguei no poço da desilusão
Eu tenho nome
Chamam-me Fome