Você, minha vizinha tenra
Minha triste melancolia, minha deslinde vazia
Eu tenho que me render a ti
De passagem pela solidão, nos agouros puros
Nos delírios putos
Fazem de nós um pouco menos do que somos
Parto em mil pedaços
Sou anjo que cai no jardim
Nem mesmo um demônio no teu ombro
Para por fim em números cardinais
Cardeais do Éden
Me levam a dizer que a gente quer mais do que pão sagrado
Safada e desnuda
Transbordam salientes pelos meus pelos
Pó nas minhas narinas
Sangue que corre em mim
Lágrima corrente
Descriminado, descriminalizado
Cromado peito de zinco
Telhado quente, a felicidade me desconhece
De passagem me arrefece
Descobre, disputa, te chamo de pura
Pena demais não faz fé
Fé demais de que tem pena
Demora, sucinto, mentiras plenamente puras
Interssexuais
Mesóclise na minha língua
Minha boca com tua língua
E me martirizo
E mato
E parto para outro plano
A realidade apontada para o horizonte dos meus olhos
Na minha cabeça, arma quente
No meu colo, teus lábios
Foguete predestinado
Marte é longe e a Terra é nossa
Faço mundo, garganta profunda
Profana
O Éden distante
Diamantes nos meus dentes, cobre nos teus olhos
E teu olhar me derrete
O gélido fim, dos pares consoantes
Berlinda
Berlim
Talvez seja o portão de Brandemburgo
Talvez seja expurgo dos meus espólios
Face, dê-me um fim
Fim de vida
De semana
De tudo
Mais que um dia, mais que seria
Eu não vivo
Ninguém liga para os meus livros
Ninguém se toca pelo que escrevo
A pena que esmorece
Esclarece que você é fruto do diabo aos seus cornos
Forno elétrico
Tiro no escuro
Tiro sua roupa
Tiro minha vida
Não que eu vivesse, mas ainda resta alguma coisa
No meu espólio terreno
Amenidades nos bêbados da praça
Jogando dominó
Traças velhas fazem nó cego
Nas minhas roupas
Fico nu, mas meu corpo queima
Então que eu esteja de passagem
Pela tua vida
Pela vida
Sofrimento e solidão são balizadores de momento
Mergulho profundo entre tuas pernas
A morte me parece menos dolorida
Agora que a vida
Fica apenas de passagem...