eu sinto o frio sob os pés: ressoa aqui dentro em hora de crise
as risadas ecoam no ar: são respiros que arranham demais a garganta
não toca; que o peito arde gelado
e o coração não conhece o limite do próprio bater.
Já o tempo excrucia em hora de crise: pisa largo, sem razão
as palavras já fogem ao controle, sem receio a proteger
e o amanhã parece que não vem.
então não toca; mas não deixa; não fica; mas não vá
eu juro: é só água morna na cabeça
é só silêncio, que então
dói cada vez menos
e eu consigo velejar
mas tira a luz, que queima as pálpebras
tira a gola que enforca
por favor, não bate a porta
que sou de um mundo que escorre
feito água em outros braços
mas me enterra a sete palmos e me cala
e se todo dia eu me acordo
é pelo cheiro de gás livre
que a rua entorna
mas eu insisto em respirar
eu insisto.