Conheci
Uma moça
Na nascente
Do rio.
Moça
Bonita
Do cabelo
Crespo
A pele
Preta
Sorriso
Branco.
Navegamos
Juntos
Cada qual
Em sua canoa
Toda noite
Sonhava
Contigo
E quando
Acordava
Via-te ali
Pesquei
Cantei
Escrevi
Odes mal-feitas
Arranhadas
Em uma folha
De bananeira
Escutei
Sua voz
E vez
Ou outra
Visitei
Sua canoa
No meio
Da noite
Por azar
Certo dia O rio
Se dividiu A correnteza
Me levou E a moça bonita
Pra um lado Para o outro.
Concretude, entre o concreto e o lírico, é uma obra experimental. Quando conheci o neoconcretismo, de Ferreira Gullar, confesso que me apaixonei pela estética e pela ideia do movimento. Como poeta político, que me identifico como tal, vejo a poesia com um caráter ativo de contestação e revolta. Por isso, via problemas no neoconcretismo de Gullar. Era para mim arte erudita demais, acadêmica demais, para o entendimento de um círculo fechado e que não pretendia se abrir naturalmente a receber os seres “estranhos” e “in-queridos”.
Minha poesia sempre teve uma linguagem fácil e as minhas críticas sociais-políticas tentam ser certeiras, evidentes. Não pretendo esconder em uma linguagem rebuscada uma crítica que precisa ser certeira e atingir o alvo como chutes ao peito. Busco, embora possa parecer um pleonasmo, um novo-neoconcreto - a partir desta coletânea de poemas concretos no estilo e na dureza. Não que eu esteja tentando inaugurar uma escola literária jamais vista e pensada, não, e nem tenho gabarito para tal. Escrevo poesias e faço minhas críticas, sou estudioso das humanidades, e entre um artigo e outro, faço versos. Na realidade faço textos longos, sem formato padrão, sem rimas - que não sei fazer -, e que tentam passar algo, que em alguns casos, nem eu próprio sei o quê.