Maranhão, Brasil, América Latina,
entregues ao colo do quarto.
Lá fora, cada folha tocada pela chuva fina
que lava o jeito de pensar, nas gotas
de seu dorso estreito,
para além da janela.
Não é chuva, apenas.
É todo o desejo do pulso aberto,
ungido pelos dizeres frios
sobre o relevo,
que desfiam seus medos
e fazem brotar, para fora da terra,
as raízes nuas
do deslumbre acidentado.
A moldura do mundo
se enlargueceu
e a mais um segundo,
na correnteza latina
que é trazida, dentro do peito,
lampejante,
assim como as almas lampejantes
que descem do ozônio,
matando a vontade,
matando a fome,
dentro do organismo,
livres.
Estes poemas têm a pretensão de reconhecer a vida, tomando como ponto de partida o corpo, a dimensão física do ser, para, daí, afirmar seus desejos amorosos e sua ligação com a terra e com a gente da América do Sul. As intenções nascem das entranhas de um Maranhão clandestino, alimentadas pela ambição de se guardar na eternidade, não pelo caminho da espiritualidade, mas pelo caminho do corpo. Caminho que foi pavimentado pela ação literária, por poemas que partem da horizontalidade do ser: o homem, sua própria carne e seu próprio sangue. São poemas que se aglutinam no corpo de um homem na casa dos vinte anos e que se habituou a ver estendidas pelo chão as vísceras das circunstâncias e das almas das pessoas, enquanto ansiavam por uma pele que as pudesse guardar e comunicar. Águas latinas tem a pretensão de ser, entre tantos livros que já o foram, essa bem folgada pele. Pele que sabe o velho e espera pelo que o novo há de acrescentar.