Bárbara Maria


GRITO DE LIBERDADE


“Ecoou um canto forte na senzala

Ecoou um canto forte na senzala”

Mas lá fora existe a tal da bala

Que abate o meu povo

Se livramos das chibatas

Mas continuam cravando

Meu corpo negro de bala

Morro quando o sangue dos meus escorre,

ladeira, rua, quarto e cozinha.

Morreu mais uma menina que esperava outra menina

Cansada de ser a mais barata do mercado, tratada como só mais uma estatística e vista como vítima na mídia.

Vítima de bala destinada, não foi perdida se o alvo é sempre um corpo negro no final do beco

Nem terminamos de gritar presente pro último inocente e já tem outro deitado chão.

Coração em pedaços, meu corpo sente o cansaço de quem come o pão amassado todos os dias.

O diabo fardado me espia 

Na tentativa de calar minha voz 

Matando mais um cria.

Se o choro da mãe não te comove, você morreu por dentro antes do motolov

Não me mate, pois já tô morta

Feito fênix, mas no pique águia

Sempre alerta

Ouvindo o riso da pequena Agatha

Nas asas de Marielle

Do grito de João

Vivendo na fé

Do axé.

Se livramos das chibatas

E vamos continuar lutando para se livrar das balas.