France Marinho

ESPELHO D’ÁGUA


No espelho d’água 

O reflexo da negrura

Da pele reluzente

Contrasta com o branco das nuvens 

De um céu 

Que não foi criado 

Nem por Deus 

Nem pelo Diabo

Pois a criatura ali

Diante de si no espelho

Vinda do barro

Moldada pelas mãos de Nanã

Existe e resiste 

Ancorada pelo sangue 

De seus avós 

Derramados das veias abertas

Em uma outra época

Consagrando o agora 

E o que  há de vir

No espelho d’água 

A lágrima que brota 

Escorre no peito arfado 

Desejando vida

Ansiando morte

Retalhando o rosto que se mira

E se desfaz no trepidar 

Do espelho d’água

Nada é constante 

Tampouco infinito

E de certo somente o refúgio 

Na esperança 

Dos ecos da liberdade