Ian Barrem

O CORPO PERTURBADO


Perturbado. Calado. Debruçado sobre as palavras, próximo a Rondon.

Está a existência esquecida e invisível. A Dor negra.

Tudo vai embora, menos a dor que mora no coração vermelho do corpo negro.

Se houvesse amor e dignidade. Se houvesse pai, mãe.

Perturbado, aos vinte três, o corpo negro caminha com a dor.

Sem ser ninguém, mas sendo as palavras. É quase um Deus. 

É um Deus! Mas perdido. Não conduzido. 

Há vida! Há tristeza! Há um mar de palavras caladas.

Queria, o corpo negro, que as palavras da bandeira nacional fosse real para si.

Mas sua vida é cercada de incerteza. Sem apoio. Se houvesse pai, mãe.

Nós braços de Janaína o corpo negro fuma seu pensamento. 

O corpo negro, perturbado, chega em casa e tem que suportar a existência de Um Deus tirano. Cristão.

O corpo negro, próximo ao paraíso de sua existência que é próximo ao cemitério,

Toma um copo de guaraná Paulistinha para refrescar. Ele fumava. Não houvesse pai, mãe.

Perturbado. Dançava. Brilhava. Fuma novamente.

O corpo negro tomava café na casa da tia Sueli, no paraíso, feliz.

Havia paz no seio da Vila Bandeirantes.

Contraditório. 

Mas era o paraíso.

Era o lar desse Deus corpo negro, vivo nas palavras. Eterno, nas palavras.