Suzane Morais da Veiga Silveira

À revelia


Um dia quando pequena
me marcaram
não pode, você é menina
olhei meio de lado
costurando as fraturas
desde então sigo
desconfiada
desse gênero-imposto
Hoje leio o meu rosto
feito quiromancia
essas tuas olheiras
essas tuas linhas
esse teu sorriso
são nascentes de rios
De repente ser mulher
choveu em mim
sorri encharcada dessa
palavra meteorológica
com uma sede de mil medusas
Édens, políticos, mídias, vírus
não me toquem nesse desejo
ando enfim com as gengivas à mostra
Embora saiba [agora sem agonia]
que o feminino só é possível
se for
à revelia.