Brune Motta

sobre como é ter um coração que se espalha 


Tenho um coração-morada. Morango fresco. Frasco nostálgico de intenções e passos. Tenho um coração-estrada. Via aberta, duas pistas. Sem rotas previstas, abandone os mapas e peça que eu me case agora. Nessa mesma avenida. Presa que me cace. Pulo no teu colo. É mais sensato saber respostas que não estão em lugar nenhum. É preciso descobri-las. Tenho um coração-rapto. Câmera analógica que captura. O lado azul. O lago e suas vitórias. Um coração em bpms regendo canções a partir do ritmo. A cama rangendo. Detalhes sutis que ambientam. Instrumentação quase cirúrgica. Encontrando os timbres pro arranjo perfeito. E um buquê. Uma boca aberta que engole aquilo que vê. Aquilo que vê e é visto enquanto linguagem. Enquanto fruto da sabedoria. Tenho um coração profundo, profano. Raiz das gentes, que se agarra na terra feito os pés da onça. Que não se arranca, roda mundo roda feito as linhas da costura, tecendo a manhã. Tenho um coração-maçã. Veneno, pecado, língua da cobra que ludibria, endiabra. Acontece que não tenho medo de enlaces. De lances. De lançar meu perfume na encruza da vida. Tenho um coração que é coragem, rugindo para a tempestade, não tenho nada além de um coração que diz: vire aqui.