“Apanhei doença-do-mundo. Escondi muitos dias do povo da casa-grande. Ensinaram-me remédios que eu tomava em segredo na beira do rio. Dormia no sereno a goma com açúcar para os meus males. Não melhorava, tinha medo de urinar com as dores medonhas”
Menino de engenho. José Lins do Rego
uma vida à gay talese
fernando está gripado
fernando está cansado
fernando não pôde vir
fernando está trancado no seu quarto
fernando não quer visitas
fernando, de tanto pecar,
pegou a doença-do-mundo
está de quarentena moral
fernando lembra a infância
abençoado por um deus de armário,
onde se escondia pra não morrer de fome
vai na rua de João Gomes, mata um homem, tira a tripa e come, respondia a vó
tinha sol, lua, rio, chuva e estrelas
para brinquedos que não se quebravam
recebeu uma vida de homem gay
um homem perdido escangalhado
pra uns, morre de fome de macho
pra outros, é um depravado
mas fernando quer revolta
dá voltas no cubículo
fuma um cigarro imaginário
acordou o namorado enciumado
e… eureca! ora, ora,
elementar, meu caro watson
fernando está gripado
fernando está cansado
fernando não pôde vir
fernando não quer visitas
e todo o resto que disserem:
é mal gosto literário