Guilherme Aniceto

A ovelha

 

Debaixo da ponte

Esconde o rosto

Distante do pai

Distante da mãe

Distante do pastor

A ovelha desgarrada

E des-viada.

 

Não há albergue que

Acolha e aceite

Respeite e recolha

Do abandono e da dor

Da violência nas ruas

A ovelha desfigurada

E trans-viada.

 

Não há amor na cidade

Que dorme silente

Enquanto bale

E não há defesa

Ampla ou restrita para

A ovelha tosquiada

E extra-viada.




Quinze de junho


Há doze anos
Eu me derramaria
Em lágrimas ofendidas


Há nove

Eu me debulharia

Em textos de autocomiseração


Há seis

Eu me atravessaria

Pela vergonhas de ser


Há três

Eu me culparia

Por ter silenciado


Hoje

Eu te ouvi

E concordei que sou viado


Mas jamais

Deixei

De tremer de medo


Uma ameaça

Afinal

Será sempre uma ameaça.