Ian Anderson Gomes Dias

Arco-Íris


Eu sempre soube que havia algo diferente em mim

Alguma coisa que eu não via em nenhum outro lugar

Algo que eu não sabia explicar. Só sabia sentir. E ser.

Há nesse mundo todo um range de cores distintas,

Frequências ondulatórias de infinitas possibilidades.

E, perdido em meio a esse arco-íris humanamente caleidoscópico,

Eu vaguei. Eu busquei. Eu ansiei.

Acima de tudo, eu desejei

Um dia, distante que fosse,

Poder ser feliz do jeito que eu sou.

Sem mentiras. Sem subterfúgios. Sem máscaras.

Afinal eu sou quem sou,

E não posso, nem quero, ser nada além disso.

A primeira vez que eu conheci alguém como eu

Foi êxtase. Foi descoberta. Foi revelação.

Acima de tudo, foi a epifania e a realização 

De que eu não estou sozinho

Nesse mundo diversamente multicolorido

E de que juntos, temos a força que é precisa

Para afirmar nesse mundo nossa própria e singela verdade:

Nada mais somos que gente como todo resto

Só que nos é negado o direito de ser e o de amar.

Mas, cada vez mais se aproxima o dia

Em que tomaremos com nossas mãos calejadas o título de humanos.

E, nesse momento, percorrerá o céu de canto a canto

Um verdadeiro arco-íris.




Na minha primeira vez

 

Na minha primeira vez
Eu achei que o mundo fosse acabar com aquele beijo.
Que o céu iria cair
A lua deixaria de brilhar.
Esperava fogos de artifício, gritos horrendos, bomba atômica
Achei que nossos lábios seriam dois hidrogênios que se fundem
Dois ímãs que se repelem, dois tiros que se rebatem
Planetas que perdem sua órbita melancólica e colidem, trazendo o fim.
Mas,
Quando nossas mãos se tocaram,
Quando enfim senti a sua pele,
Não houveram luzes, não houveram cânticos,
Calou-se o mundo,
Calou-se o corifeu.
Na minha primeira vez,
Tudo passou a fazer mais sentido.
Extasiado, abri meus olhos
E vi, além dos seus, um mundo diferente.
Soube então com toda a certeza que me é possível ter:
Não há mais como voltar atrás.
Me senti leve, me senti livre,
Acima de tudo: verdadeiro.
E desde esse dia sou incapaz de fingir novamente.
Na minha primeira vez
Eu achei que tudo que existe iria mudar
Que o fogo viraria água, que a terra viraria mar.
Mas a verdade
É que nada mudou.
Eu ainda sou o mesmo garoto desengonçado
(Poetinha apático e desvairado)
Só que a mentira, se um dia houve,
Agora deixou de ser.
Correntes quebradas, amarras desfeitas,
Me resta apenas viver e crer
Em um dia
Em que realmente haverá mudança
E, terminada essa dantesca dança,
Seremos livres para amar.