Jeferson Ilha

Por quê?


Pai

Por que, pai?

Com a mão na garganta,

Você não se levanta?

Pai, por que pai?

Por que fizeste isso?

Era falta de amor,

Um rancor pela vida?

Adiasse a sua ida

Pai...

Desde então

Não luto em vão

Para descobrir pai

Por quê?

Foi difícil perceber

Que o porquê era real.

O sentido sem sentido

Abrindo abissal sentido

Você...

Homem forte, destemido.

Viado assumido.

Com um filho pra criar.

Tempo cruel.

Desfazia dos desvalidos,

Que por amor sacrificavam-se

Para dar o melhor aos seus.

Dentre tantos, um milico.

De bigode à escovinha.

Que ao meu pai sustinha

Um brilho intenso no olhar...

Foi então que conheci

Um dia, o tal sujeito.

Um homem de respeito.

E assim, batendo no peito,

Simplesmente confessou...

“o Sistema me obrigou

A deslizar a tal navalha

Ato vil, canalha

Que desobrigava o meu amor,

De assumi-lo abertamente.

Medo, receio

De um futuro manchado.

Aos olhos dos outros

Sujeira, pecado...

Da navalha, ...uma carreira

Inspirada a fundo.

Ensaiada, promovida.

Policial de carreira.

Verdadeiro Homem a ser respeitado.

E um fulano honrado,

Não podia amar o viado.”

...

E assim, meu pai amado,

De sua vida privado,

Para sustentar um sistema,

Que encoraja o tirano

A justificar seu ato em detrimento

A sufocar o sentimento

Que é grande demais para esconder.

Esconder...

Pai

Por que pai?

Que a sua humanidade não cabia

Nesse mundo sem amor?

Por quê?




O orgulho de apenas ser


Belo é ser o que se é. Entre todos, ser único.
Beleza é a leveza do ser. Sentir, ousar, extravasar.
Conter, esconder ou mostrar. Você incide e decide.
Regras, não há. Há ser. Seja. Reaja. Haja. Já!
Brisa, vento, furacão. No salto, de pés no chão.
Orgulho de poder apenas ser você mesmo
E não ser punido, agredido, xingado ou abatido por isso.
Esse orgulho não fere, não engana, não maltrata,
Busca ocupar o seu lugar de direito. Ter uma vida e amar.
Construir em parceria o que o amor possibilitar. Família.
O laço que une o que o amor formou. Harmonia.
O amor não se apossa, irradia e contagia. Mais amor!
Deixe-me ser o que sou e deixe-se ser o que és...
Contanto que não se fira o direito de ser do outro.
E assim possamos ser felizes. Difícil, mas simples.
Nosso orgulho não é empáfia, nem superioridade,
São as bases de aceitabilidade e do reconhecimento.
Você está pronto para me aceitar do jeito que eu sou?