Lua Pinkhasovna

NADA!


Numa esquina-descoberta 

sem mirar o meio das pernas

cruzou sobre meus passos 

a sombra etérea geradora do verdadeiro 

sentido há anos clandestino no peito sufocado 

Sugando-lhe a imagem com a alma, 

vi tão profundamente, 

sentindo a libido despertada 

e a fração do instante-êxtase

a aponto de cegar a razão 

abrindo a visão de vislumbre de um novo recomeço

Tudo tornou-se cena: 

sem flashes, tela crua, as palavras rodavam sem roteiro,

o conto do íntimo estava descrito nos papéis alvos da pele 

confessando o descobrir-se no corpo alheio,

feito espelho, com sabor de tempo perdido 

Na corrida de achar-se em meio a tantos desamados no mundo, 

pousou sobre a boca a realização do passado em tons brandos jogados: 

eram palavras românticas e gemidos, que abafavam as ofensas dos 

que não sabiam o sentido de nascer condenado 

por carregar o fado de amar outro ser 

Faltavam poucos segundos para o ápice, 

e no final da história, estava grifado em letras garrafais:

acima do meu amor,  

NADA estará sobrepujado!





Poerótica


Num frenesi absoluto de salivas, peles roçando vidas

enlutados de orgulhos, dominando os minutos submissos aos desejos

expelindo dores e cicatrizando feridas,

o penetrar profundo dos amores deu luz à existência 

Numa co-fusão de corpos

sóbrios das amarras do mundo

embriagados no labirinto dos poros

deixando pingar cada gota quente

com o coração acelerado, querendo mais:

desaguar no outro. Trançando silhuetas num mesmo nó.

Pernas na cabeça. Braços enlaçados no peito.

Mamilos enrijecendo entre sussurros.

Língua abrindo caminhos entre pernas desnudas

lambuzando cada linha do tempo excitada

na mistura de membros, desnudando-se de máscaras.

Marcas. Combatendo a si mesmo.

Sentindo o sabor da vida sem tabus. 

Sem vão. Desmentindo a física na simbiose extrema

da dança provocante dos sentidos lascivos

projetando-se na parede com a trilha sonora dos gemidos

No choque trepidante do toque carnal,

aquele que traz êxtase e marca para sempre 

Lá fora, o tempo passando rápido.

Aqui dentro, cronologia parada.

Puramente espécie sem repressão.

Pessoas. Amor. Tesão.