Nakê Banu Bakê 

Regaço 

 

Em mil pedaços me desfaço.
Na ilusão do aconchego de um efêmero abraço.

 

Me despedaço,me mostro nua.
Sozinha retiro as pedras da rua,para que meu amado não venha a tropeçar. 

 

Meu pé descalço toca o chão que é sempre o meu regaço,meu descanso.

 

Não demora muito me vejo assim;
Desfeita,anulada,corrompida.
Vagando assim por todas as vidas 

 

Ó Mente enluarada!
ô criatura apaixonada,
Tantas vidas pelas madrugadas.
Tantas vidas buscando o mesmo olhar alheio.

 

Não há compressa pra minha dor
Nem um afago na alma.
Me encontro sozinha
Será arte ou será Karma?

 

Já fui O mago,já fui o Louco,
Já fui lua e imperatriz.

 

Posso voar em mil espaços.
O retorno será sempre feminina matriz
Terra mãe,a estrela, o mundo.
Sempre Intenso,sempre profundo,
Jamais superficial.
A papisa, a roda da fortuna;
O ventre manancial

 

Cada lágrima que lava minha visão destorcida
Não me deixa esquecer quem minha dor provocou,já tão íntima e conhecida.
Todas as faltas e partidas.

 

Que eu não esqueça as ternuras e  as delícias...
Mas não entregue meu coração a falsas carícias, 

 

Que assim retome o meu lugar.
De
Mãe,irmã e menina.
De alma eterna aprendiz de todas partidas
Firmada nesta existência e forte como o diamante que  corta o vidro.
Ainda que novamente observe os mesmos pés de mim partindo
Que não esqueça quem sou.
Eu sou e eu estou.

 

A Guerreira, a nordestina,
A mãe, a filha e a mulher.
A filha da mata,
A mãe Urbígena
A mulher que ama,
Uma mulher indígena!