Alvaro Tallarico

Rapé


Nem tiveram pena

De arrancarem minhas penas

Amarrarem as pernas


Meu cocar caído no chão

Pisado por passos largos

E meus pés descalços


Minha nudez despedaçada

Liberdade perdida

Virei mudez despreparada

Imunidade caída


Porém,

Das cinzas que restaram

Tornei-me rapé sagrado

Novos guerreiros encontraram

O caminho destinado


Ahô, Grande Espírito

Sou xamã sob sua força

Em ti me reencontro

É primal, meu grito

Não tem mais forca

Rezo o meu ponto

“Ó, Rainha,

Dai-me”.


*


Chá mãe

 

Na jiboia que se arrasta

Percebi a águia

Segurei no cipó

Abracei a chacrona

 

Minha joia contrasta

Senti como água

Não uso paletó

Nem tenho poltrona

 

Sou filho de Jurema

Humano de dia

Sussuarana de noite

Híbrido

 

Andarilho no dilema

Oceano de valia

Na savana de afoite

Concebido