Nem tiveram pena
De arrancarem minhas penas
Amarrarem as pernas
Meu cocar caído no chão
Pisado por passos largos
E meus pés descalços
Minha nudez despedaçada
Liberdade perdida
Virei mudez despreparada
Imunidade caída
Porém,
Das cinzas que restaram
Tornei-me rapé sagrado
Novos guerreiros encontraram
O caminho destinado
Ahô, Grande Espírito
Sou xamã sob sua força
Em ti me reencontro
É primal, meu grito
Não tem mais forca
Rezo o meu ponto
“Ó, Rainha,
Dai-me”.
*
Na jiboia que se arrasta
Percebi a águia
Segurei no cipó
Abracei a chacrona
Minha joia contrasta
Senti como água
Não uso paletó
Nem tenho poltrona
Sou filho de Jurema
Humano de dia
Sussuarana de noite
Híbrido
Andarilho no dilema
Oceano de valia
Na savana de afoite
Concebido