Quais são as duas cuias brancas do tal homem branco?
Jaz uma à direita, jaz outra à esquerda;
produzem acúmulo, escassez, perda.
Corro, mas o fogo alcança meus flancos,
pinta murais, corpos, troncos, de branco.
Jaz um à direita, jaz outro à esquerda;
apagamento, etnocídio, perda.
Eu acorrento as chamas vãs aos meu flancos
para que me consuma, me consuma e
deixe os originários e suas cuias
vermelhas, amarelas, pretas, unas.
Eu me imolo mesmo dia a dia, cuia a cuia.
Tu se importas comigo, me perfumas
com plantas, grafismos salvos na cuia.
*
O tipiti é uma espécie de prensa,
um espremedor de palha trançada.
Pra espremer raízes e frutos é usada a
tecnologia indígena com intensa
sabedoria secular. Dá uma prensa
num punhado de mandioca ralada
pra se ter beiju, tucupi, cachaça
tiquira, farinha, polvilho e pensa
no banquete desse nosso maninho.
Desce tucunaré, desce tambaqui,
sobe pirarucu, sobe o tal hino
da mata fechada vem e chega aqui
numa só voz arara, sapo e grilo.
Das raízes eu espremo a história do tipiti.