P. H. de Aragão

CONFEDERAÇÃO DOS TAPUIAS DE AÇO


Aqui é Sertão
Não tem vez quatrocentão
português, holandês, espanhol
cai tudo no rol, chega de ladainha, passa Sardinha
chora Nassau. Nos chamam de canibal
Será? Caraíba de trabuco forte
Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte!


Agora é Retomada
de terra violada, degolada, catequizada
É guerra de toré. Qual é?
Dança, segue o piaga, boa fortuna
não cansa, lança a toada, levanta a borduna
Reencontro de originário, sem volta
Reconquista de imaginário, reviravolta!


Aqui e agora somos de aço
antropofagia na nova guerra do Açu
Hora de emergência, guerrilha de ressurgência
Encontro, confronto gentil. Quem é o gentio?
Decente, descende, ascende, acende o pavio
Agora é retomada, aqui é sertão, levante
Tapuia, Tarairiú, Cariri em Confederação, avante!


*


Proa do Pajeú

 

Sigo o rio, procuro, não acho

não rio, no escuro, nem riacho

Encontro na memória da cacimba

um relembramento fugaz da caatinga

Pois o livro, que tanto prezo, didático

se cala sobre certo entendimento prático

da tapuia, obrigada cabocla, benzedeira da fé

de fumo na cuia, catimbó, dos tempos de pajé

E sobre a botija do curandeiro de lembrança curiboca

outrora cariri, hoje mano latino, herança em tapioca

Caído Mandu Ladino, nas águas de Tapuiretama

agora redivivo nas terras do sol, Araretama

Cego o rio, de leito encantado sazonal

só rio, às claras, no rachado desigual

Reflexo de sangue do veloz tarairiú

enevoado pelo avelós do Pajeú