a Lucinda Persona
do carrilhão ecoa o canto da virgem pelos
céus da capital
mãos trêmulas rezando o terço
o silêncio da oração invade o tempo
não há réstia de sol
passos apressados voltando para casa
estátuas beiram edifícios
um fervilhar de povo nas esquinas
te vejo do décimo andar de um hotel
da janela, miro a torre da matriz que já não
se impõe na paisagem eclética
um desejo nasce com a noite cuiabana
cresce enquanto os sons do centro minguam
sinais de âmbar surgem iluminando a vida de
alguém e enfeitando o limite do horizonte
dos meus olhos
que não te apreendem de todo.
mirando ao redor fragmentos de casa
salas, cozinhas, quartos, áreas de serviço
o mosaico da vida compartimentada
à concreto e aço.
mesmo na noite fria
tu me acolhes, cidade
espero o amanhã
embalando sonhos
pagos à prestação.