Edson Flávio Santos

janela de hotel

 

                                 a Lucinda Persona

 

do carrilhão ecoa o canto da virgem pelos

céus da capital

mãos trêmulas rezando o terço

o silêncio da oração invade o tempo

 

não há réstia de sol

passos apressados voltando para casa

estátuas beiram edifícios

 

um fervilhar de povo nas esquinas

te vejo do décimo andar de um hotel

da janela, miro a torre da matriz que já não

se impõe na paisagem eclética

 

um desejo nasce com a noite cuiabana

cresce enquanto os sons do centro minguam

 

sinais de âmbar surgem iluminando a vida de

alguém e enfeitando o limite do horizonte

dos meus olhos

que não te apreendem de todo.

 

mirando ao redor fragmentos de casa

salas, cozinhas, quartos, áreas de serviço

o mosaico da vida compartimentada

à concreto e aço.

 

mesmo na noite fria

tu me acolhes, cidade

 

espero o amanhã

embalando sonhos

pagos à prestação.