Nos passos apressados, na correria do nosso dia a dia,
Na respiração ofegante. Na passagem do tempo,
Do trânsito, da euforia, da expectativa.
O rebuliço da cidade escaldante, abafada e vazia.
Vazia de fartura e de vida.
Inúmeros, saciando a fome com as sobras de comida.
Alguns com seus corpos ósseos encostados nos monumentos,
Outros, deitados nas praças, sob as pontes, com seus olhares vazios
E suas surradas vestimentas adornando os corpos ósseos e famintos.
Nas caçambas, nas lixeiras das casas, em tudo,
Que possa haver cheiro e vestígio de comida,
As sombras avançam e os corpos ósseos e famintos
Saceiam suas entranhas obscuras e vazias.
E a cidade continua, em sua euforia, correria, expectativa...
Enquanto ali na calçada jaz um corpo ... a espera de sua desvalia.
*
A pequena flor,
Nasce, cresce e chega à mocidade.
A pequena flor,
Luta por seus direitos e igualdades.
A pequena flor,
Se adorna do seu jeito.
A pequena flor,
Se maqueia sem preconceitos.
A pequena flor,
Dança livremente.
A pequena flor,
Se torna esposa.
A pequena flor,
Agora tem os seus brotinhos.
A pequena flor,
Se desgasta no seu relacionamento.
A pequena flor,
Tenta se divorciar em harmonia e paz.
A pequena flor,
Agora está murcha, e procura refúgio pra
Si e para os seus brotinhos.
A pequena flor,
Sai para resolver alguns problemas
E é Assassinada!
A pequena flor,
Agora é mais uma vítima de feminicídio.