Géssica Menino

Corpos Ósseos


Nos passos apressados, na correria do nosso dia a dia,

Na respiração ofegante. Na passagem do tempo,

Do trânsito, da euforia, da expectativa.


O rebuliço da cidade escaldante, abafada e vazia.

Vazia de fartura e de vida.

Inúmeros, saciando a fome com as sobras de comida.


Alguns com seus corpos ósseos encostados nos monumentos,

Outros, deitados nas praças, sob as pontes, com seus olhares vazios 

E suas surradas vestimentas adornando os corpos ósseos e famintos.


Nas caçambas, nas lixeiras das casas, em tudo, 

Que possa haver cheiro e vestígio de comida, 

As sombras avançam e os corpos ósseos e famintos


Saceiam suas entranhas obscuras e vazias. 

E a cidade continua, em sua euforia, correria, expectativa...

Enquanto ali na calçada jaz um corpo ... a espera de sua desvalia. 


*



A pequena flor


A pequena flor, 

Nasce, cresce e chega à mocidade.

A pequena flor,

Luta por seus direitos e igualdades.

A pequena flor, 

Se adorna do seu jeito.

A pequena flor, 

Se maqueia sem preconceitos.

A pequena flor, 

Dança livremente.

A pequena flor, 

Se torna esposa.

A pequena flor, 

Agora tem os seus brotinhos.

A pequena flor, 

Se desgasta no seu relacionamento.

A pequena flor, 

Tenta se divorciar em harmonia e paz.

A pequena flor, 

Agora está murcha, e procura refúgio pra 

Si e para os seus brotinhos.

A pequena flor, 

Sai para resolver alguns problemas 

E é Assassinada!

A pequena flor,

Agora é mais uma vítima de feminicídio.