Leonardo de Oliveira

O Sérgio Vaz contou que mataram o menino da rua de baixo

Duas dezenas de sacos pretos na rua,
Meio fio de sangue,
Valeta de lágrimas.
O Sérgio Vaz contou que mataram o menino da rua de baixo,
De novo
De novo
De novo,
E de novo.
Matam ele todo dia,
18 tiros
Sempre que tenta levantar,
Olhos, guarda-chuvas, furadeiras,
a hora errada, o enquadre.
A mão invisível do mercado,
E sua promoção de carne:
O camburão sempre foi uma câmara de gás.


*


Mistery machine

 

O deserto avança a passos largos,

e se parece com você.

Os grãos de vento, os ventos de areia,

a boiada passa, morde e pisa,

e tem ares de você,

não dissimula!

O chão parece com você,

todo plano e meio morto,

olhos de mercúrio e fogo.

O capuz branco combina com você,

a santa inquisição, 

os gases,

as câmaras

os gases

em drones. 

Os robôs tem trejeitos de você,

a bala, a cor, a palavra, a farda.

Tudo termina como num episódio de Scooby Doo,

com a gente com um disfarce na mão, depois de resolvido o mistério:

no fim era você.