Marina Odo

Ciclo da labuta


Os corpos já cansados.

E o dia nem acordou ainda 

Esperamos o ônibus que passa às 5h50

Uns para voltar, outros para trabalhar

O ônibus já começa a lotar

A partir do terceiro ponto

Sempre o mesmo pedido:

Um passo para trás

Sinto que é o que faço

Um passo para trás

Mais um e outro

Vamos espremer nossos corpos

Até que se juntem

Nesse bololô que ninguém se importa

Faça uma maçaroca, descarte ali na esquina

Te encontro no fim da linha 

Enquanto escuto pedidos por ajuda

Que já nem acredito mais

Tem também as vendas ilegais

Em alto e bom som

Pergunto quem foi o sacana

Que vendeu a ideia

De que podemos escolher como proceder

Nessa luta cotidiana 

Só resta sobreviver

E, acima de tudo, obedecer 

Levanta

Que lá vem mais um dia.