Shay Rodríguez

ME VEJAM: DISSE O CORPO


O meu corpo, o teu corpo,

o nosso corpo. O que é o corpo?


Pensar o ser, o eu, é pensar também o corpo.

As relações não se dão sem o corpo.

A sociedade não existe sem o corpo.

O pensamento não surge sem o corpo.


O acontecer, o viver, o sobreviver.

É com o corpo.


O corpo é firme, tá na terra.

O corpo é avoado, leve, flutua, tá no céu.

É assoprado.

Vai pra longe.

Vem pra perto.


Consome e é consumido.

Produz e é produzido.

Destrói e é destruído.


Expressa alegria e dor.

Amor e ódio.

Esperança e descrença.


O corpo chora e faz chorar.

O corpo magoa e é magoado.


O corpo me toca, me dá afeto,

corpo é material e imaterial.

Corpo é coisa e coisa é corpo.

Corpo é objeto.

Corpo é abjeto.


Corpo vê, olha, enxerga.

Corpo assiste e é assistido.

Corpo é atração, espetáculo, cena.

Corpo é cinema, música, fotografia. 


Somos com o corpo. 

Performatizamos com o corpo,

usamos roupas, adereços, enfeites para cobrir o corpo,

nos despimos de tudo para mostrar o corpo. 


Mas que corpo?

O corpo é o que é.

É um corpo. 


Sinto orgulho.

Quero mostra-lo.

O corpo é biológico.

Porém a anatomia não é o destino!

Corpo é cultural, é social, é político.


Tem corpo visível e tem corpo invisível.

Tem corpo bonito e corpo feio.

Tem corpo perfeito e imperfeito.

Tem corpo.


O meu corpo, o teu corpo, o nosso corpo.

Tem corpo de mulher e de homem.

Tem corpo de pessoa.


Existe corpo frio, quente, pálido.

Existe corpo preto, branco, de diversas cores.

Existe corpo cis e trans.


Existe corpo. 

O corpo existe?

O meu corpo, o teu corpo, o nosso corpo.

É corpo. 


O que é o corpo?

Me vejam: disse o corpo.