Filipe Russo

Venda


Eu me vendei só com seda e cetim,

com longuíssimas tiras minha mente

sepultei. Quem escolhe não ver mente?

Ao repetir uma prece sem fim.


Diamantes de sangue jazem em mim,

a minha pele é um colar de rendas.

Venda à venda eu me vedei com as vendas

de alma? De corpo? Feito um serafim.


O silêncio dos surdos é o escuro.

Eu me ceguei cílio a cílio voltados 

para dentro, onde me envolvo em sussurros.


Na rua estouram as gritarias nos atos

e o que o meu presidente diz eu escuto.

As linhas do pensar me picam hiato a hiato, átona.