Helder Júnior

Silêncio 


Ando meio farto de tanto barulho.

Passo no mundo e fico confuso.

Os pássaros cantam, no entanto em meio a vida ninguém ver muito.

Ouço sim o silêncio das palavras que ecoam.

O silêncio solene dos que enterrem seus sonhos.

O silêncio do Estado que omite tanto entretantos.

O silêncio dos direitos humanos quando um de bem morre lutando...

Ando meio chato para tudo.

Atravesso fechado o poço profundo.

As árvores dançam, enquanto, em meio a vida muitos não enxergam quando.

Ouço o silêncio dos que padecem com fome.

O silêncio do pai de família que com tiro desfalece na rua.

O silêncio da menina gritando a dor da violação diária e absurda.

O silêncio dos que choram nos bancos, nas praças, nos campos.

Ando meio fraco para escalar muros.

Caminho na incerteza do vento hesitante.

O Sol dorme à noite, mas, em meio a vida nada encanta quando já é bastante.

Ainda ouço o silêncio dos homens lá fora gritando.

O silêncio das almas consumidas.

O silêncio das canções que nos devora.

O silêncio das multidões que clamam a Aurora.

E, assim, talvez, no instante, eu nunca mais paro por tanto quanto...

De escutar sofregamente os silêncios que teimam em chamas.