Valéria Pisauro

SEM PAUTA


Hoje não tem poema, nem dilema,

A tinta falha, o sangue escorre,

A página espia, plena nostalgia,

Fechado para prosa e poesia,

A arma não cabe nas rimas.


Hoje o poema está com fome

De versos, de vida, do homem,

Sem pauta vagueia distraído,

Marca passo das trincheiras,

Sem espaço em linhas vazias.


Hoje o poema está parado, calado,

Forma nua na esquina do pecado.

Não há cura nem cenário, 

É panfletário sem assinatura,

Abismo gratuito sem rasura.


Hoje o poema está vago, não eleito,

No meio do caminho, sem sujeito.

A palavra não soa, a vida está à toa,

Perdida em entrelinhas da memória, 

De uma história em que não se apaga.