Celso Lopes

A ÚLTIMA ÁRVORE DO UNIVERSO 


Por um descuido, por não lhe ouvirmos a súplica, 

à nossa frente sangra a última árvore do universo. 


Por destratarmos a natureza da sua natureza,

induzimos severas fissuras à última arvore do universo.


Por um ato falho de relegarmos a sua ancestralidade,

queimamos viva, sem culpa, a última árvore do universo. 


Por ignorarmos o seu silêncio milenar de  significados,

abrimos  fenda aos fungos na última árvore do universo. 


Por lhe fecharmos o cerco e  estancarmos a sua seiva, 

à nossa frente morre de sede a última árvore do universo. 


Por lhe impedirmos o ar  e secarmos o seu fôlego de seguir,

abatemos  o broto e a vida  da última árvore do universo. 


Por ela, pela última árvore do universo,  

já não haverá crianças que a defendam... 


Por ela, pela última árvore do universo, 

já não haverá razões para tratados políticos... 


Por ela, pela última árvore  do universo, 

todos os seres, todos os  versos serão tristes...


Diante dela, o silêncio inútil,  o gesto inútil,  

o grito inútil serão cantigas de roda -  surda e mudas:  

o  poema em desespero  abraçando o planeta!...