Jacqueline Lima Coelho Sampaio

O socorro dos moribundos


O sabiá cantou

Sem teto

Tristemente embalou meus ouvidos

Choramingo 

Colhi o que restava ainda na calçada 

Sem lar

Sem compaixão

Sangue vertia

Manchou minhas mãos

Alma corrompida

Os meus causaram dores inimagináveis 

Ceifei a sua vida pelo descaso

Naquela estrada

Outros corpos repousavam

Tristes sabiás

Vozes sufocadas pela dor

Minha dor sufocada pelo desassossego 

Com o moribundo corpo as mãos, encontrei sua última morada

Alimenta os vermes

Silencio pairou durante o cortejo fúnebre

E então notei

Tardiamente

Que eu também estava sangrando

E sucumbindo

A minha própria ignorância 

Do pó fomos criados

Ao pó retornaremos

Regados com o sangue de Judas