e eis que o sustentável vira moeda de troca
modinha, marketing, politicamente correto – capitalismo abjeto
algo tão necessário transformado em ativo monetário, antiproletário
a água se esgota, o clima piora, a floresta queima
a política se embota, o ar se deteriora, o cidadão ainda resiste e teima
até no que é bom há exploração, degradação, usurpação
a indústria lucra, os negócios proliferam
declarar o sustentável reduz o imposto de renda
a saúde não importa muito, veganismo é bom e tá na moda
posar de sustentável dá like, diz o coach, te faz foda
desmatar gera lucro, o que importa é vender
terra indígena é só mais uma fonte de poder
os índios podem morrer, as índias são fonte de prazer
o país tem recursos de todo tipo
minerais, fluviais, florestais, animais – e o que se faz?
todos sabem a resposta, é sempre a mesma bosta
eu economizo água, reaproveito o que eu posso
o ambiente me importa, cuido do ar que é nosso
e o que você faz? o que fazem os demais? consomem até não poderem mais!
e eis que os desgovernos prevalecem e nossos esforços se desvanecem
desculpem o tom, mas é que a gente cansa nessa eterna desabastança
será que o pobre que come osso do lixão nos entende?
é fácil propor, difícil escolher
entre o ideal sem apoio de cima e o quase nada que embaixo é o que se tem hoje pra comer
país insustentável, mundo abominável, gente deplorável
mas e as pessoas, como eu, como você?
eu escrevo poesia, eu protesto em apatia, grito mudo
eu critico, eu grito, eu berro, eu me desnudo
mesmo sabendo que não vai funcionar, que posso não convencer
eu faço pouco, menos do que devia, do que podia, eu só tento, é meu alento
e você aí, o que vai ser?